Meus tempos de brincadeira
Que vida boa era a minha
O gelágua era uma quartinha
O pote uma geladeira
Água fria na biqueira
A panela com pamonha
Eu nunca tive vergonha
Nem complexo nem besteira
Na puxada um moinho
E lenha para o fogão
A peneira e um pilão
A vassoura num cantinho
Na forquilha tinha um ninho
Morada do rouxinol
Que cantava ao por do sol
Alimentando o filhinho
Lembro das moças bonitas
Que eram apanhadeiras
Trabalhando em capoeiras
Com seus vestidos de chitas
Combinações esquisitas
Entre rosas e espinho
Cabelos em desalinhos
Presos com laços de fitas
Os cipós e carrapichos
Riscavam suas canelas
Fazendo desenhos nelas
Com nuvens, estrelas e bichos
Com relevos e caprichos
Criavam obras de arte
Parecia um estandarte
De segredos e cochichos
As vezes cantarolavam
Sem senhoras ou senhores
E a noite se perfumavam
Com sabonete alma de flores
Esqueciam os cansaços
Com os beijos e abraços
Trocados com seus amores
E a noite quando estavam
Em seus lençóis enroladas
Luzes da lua passavam
Por entre telhas quebradas
Uma casinha singela
Mesmo assim a vida é bela
E lembranças serão guardadas
Nunca aprendi a nadar
Mas em algumas manhãs
Ia ver as jaçanãs
Com seus filhotes a nadar
Ficava imaginar
Construir uma canoa
Ficar dentro da lagoa
Sem medo de me afogar
Um dia eu mergulhado
Com muito frio e feliz
Passou rente ao meu nariz
Uma cobra de veado
Eu fiquei apavorado
Brinquei de estátua com ela
Uma cena igual aquela
Nunca tinha imaginado
A aventura de ver
Galinha d’água e marreca
Socó, carão, perereca
Eu não podia esquecer
Se um o solo descer
Na lama vou afundar
Sem nada pra segurar
É sucumbir e morrer
“O conhecimento é um farol na escuridão”
Antônio Lopes Bezerra