Em uma aldeia remota, havia um vasto vale que, sob o manto da noite, tornava-se um lugar de mistério. Era vedada a entrada no vale após o anoitecer, pois luzes intermitentes surgiam entre as sombras, alimentando lendas entre os moradores. Eles acreditavam que seres de outros mundos visitavam o local, e os audaciosos que se aventurassem por lá durante esses fenômenos luminosos seriam transportados para reinos além da nossa compreensão.
Nenhum morador ousava desafiar a tradição do temor ao desconhecido. A lenda persistia, passando de geração em geração, mantendo o vale em um isolamento noturno. Alguns contavam histórias de terem testemunhado naves de outros planetas descendo suavemente e lançando feixes de luz sobre a terra, como faróis de outro mundo.
À beira do vale, residia um ancião acompanhado apenas por seu leal cão. Em uma dessas tardes, o cão empreendeu uma caçada a uma lebre, na esperança de assegurar a refeição noturna para si e para seu dono. A lebre, astuta, refugiou-se em sua toca, enquanto o cão, paciente, aguardava sua saída. Contudo, o crepúsculo deu lugar à escuridão da noite, envolvendo tudo sob seu véu sombrio.
O cão abandonou a perseguição e, ao voltar volta para casa, agitou o ar entre as árvores, despertando um exército de pirilampos. Um a um, eles acionaram suas luzes, banhando o vasto vale em um espetáculo cintilante. O cão, em sua alegria inocente, saltava e corria, incitando ainda mais pirilampos a se juntarem à dança luminosa, iluminando a noite com um brilho crescente.
O homem, aguardando com expectativa pelo seu fiel companheiro, ao contemplar o vale banhado de luz, resolveu agir; “Irei ao encontro do meu amigo, não o deixarei para trás. Se os marcianos o levarem, terão que me levar também, pois ele é meu único parceiro.
Ao avançar com passos lentos em direção ao vale, ele desvendou a origem daquela luz espetacular e se encantou com a cena diante de seus olhos. Nunca teria pensado que, tão próximo, se ocultava um segredo ancestral: a dança cintilante dos vaga-lumes. Incapaz de correr, ele sacudia os arbustos com sua bengala, intensificando ainda mais aquele espetáculo natural.
Na manhã seguinte, ele compartilhou com os vizinhos as peripécias da noite passada. Alguns deram risadas, outros simularam convicção, mas todos atribuíram o relato do velho à sua avançada idade, descartando-o como mera fantasia. Dessa forma, a lenda antiga se manteve viva, destinada a ser narrada para as próximas gerações, sobre o vale que fora palco de visitas extraterrestres.
Seguindo a tradição de muitas lendas, essa também passou a ser contada com uma versão diferente, o netinho do ancião acreditou que ele estava falando a verdade, e passou a contar a aventura do avô de uma forma diferente da antiga lenda. Uma noite o homem levou o neto até o vale dos vagalumes, e agradeceu porque ele nunca duvidou que ele estava falando a verdade. Ainda que o tempo passe, a lenda do vale dos marcianos permanece imortalizada na memória da aldeia. Afinal, é mais simples nutrir o temor do desconhecido do que se aventurar pelo vasto e inexplorado universo das lendas.
“O conhecimento é um farol na escuridão”